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VERB,Galeria Virgílio, 2008.

 

UM SALTO NO PRESENTE

VERB

2008

José Bento Ferreira

 

 

As Madonas de Dália Rosenthal são imagens veladas, fulgurações do “incircunscritível”, como se diz sobre a imagem divina. Em vídeo, fotografia, desenho e pintura, a artista trabalha para levar cada meio ao limite, buscar o objeto específico que o ofusca.

 

Certa vez ela filmou e fotografou o mundo em movimento de dentro de um trem. Fez um vídeo no chapéu mexicano, o brinquedo temível dos parques de diversões. O vôo vertiginoso traduz-se no baixo contínuo do vento. Imagens se alternam, partilham do paroxismo, prestes a tocar algo que nunca alcançam. Como fixar uma imagem no devir incessante?

 

 

 

Agora ela mostra um políptico de fotos do “horizonte marinho”. Nada exuberante, assim como o registro em vídeo de um mergulho. Não se vê nada, não se trata de ver, mas de sentir a presença maciça do mar, muito mais do que os objetos contidos nele. Há um modo de representar a natureza que se propõe a nobre tarefa de documentário e flerta com a experiência estética. É no antípoda disso que se situam esses trabalhos.

 

Conhecemos o mundo através de imagens, mas até que ponto elas correspondem a uma experiência da realidade? As imagens de Dália Rosenthal por sua vez descrevem coisas que podemos fazer, ao contrário dos panoramas sobre vastidões por onde ninguém anda. Dessas ações ela extrai uma sensação de presença que a imagem naturalista desconhece e impede. 

 

 

 

Ao falar sobre seus desenhos cegos, a artista cita Un Saut dans le Vide e Symphonie Monotone do francês Yves Klein, pioneiro da performance. Ele dizia conhecer a Lua melhor do que a Nasa. Neil Armstrong ainda não havia dado o seu “pequeno passo”, era contra as imagens que falava Klein.

 

Um vídeo mostra a artista fazendo esses desenhos. Ela faz questão de desenhar “in natura”, mas sem ver o que seria o modelo. Vemos o que ela não vê, mas não vemos o que ela faz, pois também essas imagens são veladas. Então vemos que o vídeo é a imagem despretensiosa daquilo de que os desenhos são uma realização maior: o puro ato de estar presente.

 

 

Exposição Verb - Dália Rosenthal, Galeria Virgílo, 2008.

 

 

Em sua procura pelos vetores essenciais a criação de um trabalho que investigue questões simbólicas, propiciando reflexões mais amplas sobre a existência humana e suas relações com a experiência interna, um diálogo entre arte e espiritualidade, inaugura a exposição Verb, na Galeria Virgilio. A artista define que, nos dias atuais, o lugar está para o instante da ação como única realidade possível, mesmo assim acessível apenas em um único momento. Todo o resto é pura especulação, “...apenas o lugar da escolha pode ser passível de existir.”

 

 

A mostra é composta por 3 séries, com dez trabalhos inéditos abrangendo criações nos mais diversificados suportes, como óleo sobre tela, óleo sobre papel e fotografia, além de um desenho de grandes proporções – Leme – e o registro em vídeo – Travessia – que apresenta uma travessia submarina. Na série MADONA, os trabalhos de pintura a óleo, sobre papel ou sobre tela, ressaltam os campos de cor formados a partir da repetição de uma mesma ação, uma ação mântrica - uma repetição executada para a busca por algo que seria como um encontro maior. A escolha desta matriz não ocorreu apenas pela força desta forma mas também da intenção de criar um diálogo com a Historia da Arte pois as Madonas são uma das bases da historia da pintura a óleo. Em NATUREZA PARTICULAR, fotografias trazem na mesma imagem inúmeras sobreposições do mesmo objeto observados a partir dos mais diversos pontos de vista, onde, de cada um destes pontos, há partes que foram selecionadas para se sobressair sobre as outras. SANTIAGO é também um trabalho em fotografia formado por um painel de 6 m. que exibe o registro de UM MINUTO do horizonte no fundo do oceano; uma paisagem formada por blocos de cores que se diferenciam por mudanças sutis de cor dadas pela alteração da luz na água.

 

 

Assim como outros trabalhos da mostra, Leme e Travessia discutem a relação entre referencias externas e internas como guias de nossas ações. De certa forma os trabalhos afirmam uma total falência do externo naquilo que concerne à organização de nossas experiências. “Há que se despertar outras formas de se relacionar com a realidade” declara Dália Rosenthal.

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