WILL
Centro Maria Antônia,2002
José Bento Ferreira
A mais nova instalação de Dália Rosenthal explicita o conteúdo mítico da experiência cotidiana. Apresenta um conjunto de desenhos, fotografias e objetos sob o signo da aceitação - a frase final do Ulisses de James Joyce, proferida por Molly, sua Penélope: "yes l said yes l will Yes".
Uma série de desenhos cegos reverbera o balanço do mar. A canoa sem destino se contrapõe à saga marítima
do herói antigo. Os desenhos confrontam a série de fotografias feitas através das janelas de um trem metropolitano singrando a periferia de São Paulo. O desenho cego e a fotografia em movimento sugerem a dificuldade de se conciliar o olhar e as coisas. Mas essas imagens tomam corpo em duas chapas dobradas, uma de cobre e a outra de latão. Um metal puro e uma mistura de metais. A frase final do Ulisses é a síntese improvável de todas essas contraposições. Por meio dela o conjunto da instalação encontra uma unidade. Suspendendo o estado de choque a que nos submetem as odisseias de Dália, a frase proclama a aceitação do mundo revelado através das janelas do trem. O trabalho de Dália Rosenthal sugere que todos os caminhos podem ser percorridos como jornadas homéricas. E mesmo a difícil jornada do olhar, que não deixa de ser um regresso da subjetividade ao mundo que a engendrou, parece imbuída do caráter mítico e da plena aceitação que Dália soube ver em Joyce.