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Da Passagem, Casa Galeria, 2005

Priscila Sachettin

 

Dois trabalhos muito opostos. É o que pensamos ao ver a exposição “Da Passagem”, por Dália Rosenthal e Murilo Kammer, composta por fotografias derivadas de dois trabalhos em vídeo. Apesar de dividirem um formato (vídeo/foto), é o contraste entre as duas obras que primeiramente nos chama a atenção. Dália nos mostra o vídeo “Para dizer que sim”, realizado durante viagem feita com amigos. Reunidos ao redor de uma mesa, convivem como tantas outras vezes, até que, um pouco por acaso, um deles, músico, começa a flautear uma música de Pixinguinha. Dália liga a câmera e captura um momento de convergência espontânea: aos poucos, o som da flauta envolve as pessoas, que respondem a essa espécie de convite improvisando uma dança ou cantando. Nessas imagens a luz é pouca, a presença humana é constante e a música acompanha todo o vídeo (e podemos supô-la mesmo nas fotos).

 

Já em “Suportes”, vídeo apresentado por Murilo, a luz é intensa, a presença humana não se faz senão fugidiça, quase imperceptível e o silêncio é total. O artista realizou estas imagens ao percorrer com sua câmera as dependências de uma unidade da FEBEM, desenhando o espaço ao registrar os suportes da passagem humana – paredes, portas, grades, chão. Apesar do contraste, há algo que une fortemente os dois trabalhos: o desejo de suspensão. Dália almeja uma suspensão do tempo – em meio ao ininterrupto fluxo de momentos de que nossa vida é feita, a artista identifica, num fragmento de tempo, algo de especial; um momento presente vivido de forma tão plena que merece ser salvo (suspenso) da correnteza desse rio que tudo traz e tudo leva: o próprio tempo. Murilo deseja suspender o espaço: as marcas do cotidiano humano inscritas nos suportes são mergulhadas na luz até deixarem de ser, até sua supressão. Encontramo-nos então num espaço zero, esvaziado, suspenso. A meio caminho entre o concreto e o luminoso, é um espaço à espera, potencial e indeterminado, em silêncio. As fotos reforçam o efeito de suspensão, uma vez que replicam-no, num efeito ao quadrado. Isolando fragmentos dos vídeos, reafirmam que a suspensão implica uma eleição, ou seja, uma escolha daquilo que é digno de ser salvo.

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